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Será que é possível conciliar maternidade e corrida? Muitas corredoras, que querem ser mães, já se questionaram sobre os impactos da maternidade na sua vida esportiva.
Questões como: ”Será que vou dar conta?”, ”Será que minha performance na corrida vai mudar?” entre outras assombram as corredoras, de iniciantes à experientes.
Para ajudar as futuras mamães, o texto vem trazendo alguns pontos, além da visão de mães corredoras. Confira a seguir.
Ser mãe é não ter tempo para nada?
Você é corredora. E sabendo de como a maternidade mexe com todo o corpo e a vida da mulher, pode achar ser humanamente impossível passar por esse processo e logo após voltar ao mesmo ritmo.
Realmente é algo difícil de ser alcançado. Ainda mais numa sociedade que ainda molda mulheres para serem mães em tempo integral, com uma vida exclusivamente dedicada ao seu filho pelos próximos anos.
De fato, em partes, isso é verdade. Mas é preciso entender que tudo são fases. Há sim o período da falta de tempo e da dedicação integral. Mas aos poucos, e se houver a vontade da mulher, é possível voltar a fazer o que se fazia antes. A maternidade é algo que se soma na vida de uma mulher que já existia e não anula. A maternidade não precisa ser o fim da sua jornada na corrida, ela pode ser um dos motivos.
Pensando nisso, falaremos das principais questões da junção de maternidade e corrida. Vamos começar do início?
Pode correr na gravidez?
Depende. Se a gestação for normal, sem intercorrências, a mulher que praticava corrida antes de engravidar pode continuar correndo. Ressaltando a individualidade de cada corpo e cada gestação, sendo assim o acompanhamento médico é de extrema importância.
Entretanto, para as corredoras que desejam ser mães, na maioria dos casos não será necessário deixar as pistas durante a gestação. Apenas, gradualmente, ir diminuindo a intensidade.
Retorno pós parto
O período do retorno dependerá do tipo de parto. As cesáreas exigem mais tempo para o corpo se recuperar.
Mas antes de pensar nas pistas, lembre-se que ocorreram muitas mudanças no corpo e antes de qualquer coisa, fica aqui uma super dica: fortaleça o períneo.
Períneo é o músculo responsável por ajudar na sustentação da barriga. Ou seja, responsável por carregar o bebê durante toda a gestação. Sua reabilitação é importante para evitar problemas futuros como incontinência urinária.
Pense que além do períneo você precisará de músculos fortes no corpo todo, não só para correr, mas também para carregar seu bebê. Invista no fortalecimento muscular.
Preocupe-se ainda com os equipamentos que acompanharão você nesse processo, como o tops de alta sustentação, pois os seios provavelmente estarão maiores devido a amamentação, e bermudas de compressão, com cós estruturado pois vão ajudar na preservação da musculatura infra abdominal.
Autoestima
A volta do corpo pós parto é um processo que leva tempo. E ficar infeliz com a própria imagem, em uma sociedade que exerce pressão estética, é comum. Mas não se culpe por isso.
É claro que você estará amando seu(sua) filho(a). Mas antes de ser mãe, você é um ser humano rs e tudo bem querer se sentir bem com sua imagem e recuperar sua autoestima. Isso é natural de todos nós.
Você já deve ter ouvido que ”Quando nasce um filho, nasce uma mãe.”. Mas essa nova mãe não pode ofuscar a essência da mulher que existe em você. É frequente ver mães se sentindo culpadas por pensarem em si, como o fato de buscar uma melhora física ou fazer algo para si mesma, como a corrida. Contudo, é preciso normatizar que não há de errado em se preocupar com você.
Não se culpe por tirar um tempo para você, para voltar a praticar o que tanto ama, a corrida. Esse autocuidado te fará uma mulher mais forte ainda para enfrentar os desafios da maternidade.
Sem contar no poder da endorfina, o hormônio da felicidade, que é liberado nas atividades físicas, traz uma sensação de bem-estar imediata, te deixando ”pronta” e super animada para os demais ”pratinhos” que estão girando nas mãos das mulheres que são mães, que trabalham, que cuidam da casa, estudam, têm séries para colocar em dia etc.
Adaptação da rotina
O recomeço é dolorido. A disposição, a falta de tempo e muitas vezes não há rede de apoio, o que dificulta o processo. Mas se há vontade de voltar, é preciso focar nisso. Foi assim com a nossa esportista Naddya Emmendoerfer, 42 anos, Designer de bolsas, mãe de um menino de 10 anos e uma menina de 7 anos, corredora amadora, 3 meias maratonas e mais de 150 provas concluídas:
”Eu ia à academia que podia levar crianças, com espaço kids. E as madrugadas sempre me acompanharam nos treinos de corrida, pois eu sempre precisei voltar para a casa antes das crianças acordarem.”
Muitos fatores podem colaborar para você ficar parada, mas não desista de recomeçar. Adapte-se e volte. Com paciência e respeitando cada fase. Voltar a sua performance de antes dependerá de você.
Resiliência
Ser corredora te fez resiliente, não foi? Te fez entender que nem sempre o treino ou a prova sairá do jeito certo, mas desistir nunca foi uma opção. Agora você estará frente a frente com um dos maiores desafios de resiliência da vida de uma mulher: ser mãe.
A maternidade, assim como a corrida, não tem um manual e não é linear. Por mais que te digam como será, é algo totalmente individual e cada pessoa terá uma experiência única.
A nossa esportista Kelly Niglio de Luca, Educadora física formada há 20 anos, empresária, mãe de duas meninas (Luana 12 anos e Laura 8 anos) corredora maratonista amadora, passou por essa experiência e conta:
“A corrida me ensinou a ser mais resiliente, a ser mais paciente, a entender que para alcançar resultados eu preciso passar por etapas e sem atropelar essas etapas. Que eu sou capaz de superar desafios, só preciso ter confiança em mim, ter coragem. Acredito que a corrida me ajudou a entender tudo isso e aí quando eu me tornei mãe as coisas foram mais fáceis no sentido de ser uma mãe mais resiliente, mais paciente, respeitar a etapa do filho, sem tentar atropelar as coisas. Não só do filho, mas das fases que a gente passa…”.
A corrida e a maternidade se assemelham e se complementam nos desafios. Sem se dar conta do quanto está se tornando mais forte em cada um deles. A corrida requer paciência, um passo por vez, respeitar as fases e os processos… e a maternidade também.
Você pode ouvir relatos dos melhores atletas e estudar o percurso, mas quando é o seu momento, a forma de lidar com os desafios é o que te faz passar por eles. Assim como na corrida, na maternidade também não existe receita de bolo e nem livro que te faça ser uma boa mãe. É amor e resiliência.
Será que vou dar conta?
Essa dúvida se fez presente na vida da esportista Rafa Arlotta, 35 anos, publicitária, empresária, mãe de uma menina de 7 anos e corredora amadora, com 15 Meias Maratonas e 4 Maratonas e aproximadamente 100 provas concluídas:
“Quando me tornei mãe eu questionei minha capacidade de cuidar, de educar, de direcionar, de dar conta dos muitos pratos que giravam nas minhas mãos. A corrida me ajudou a ver do que eu era capaz. A cada desafio, seja ele correr mais longe, mais rápido ou mais vezes, eu via a minha força… e certamente essa força eu levei para as outras áreas da minha vida, inclusive para a maternidade.”
Aprenda com a jornada da corrida
Ser mãe está distante de ser uma tarefa fácil. É como se tivéssemos que alinhar o cronograma de duas provas. Uma para você e outra para um serzinho ali do lado que precisará da sua atenção, amor e cuidado.
Mas se sua vontade é essa, mas o medo de encarar essa prova ainda te bloqueia, lembre-se daquela prova difícil, que você nunca achou que seria capaz de concluir, mas conseguiu!
A maternidade será isso. Provas dificílimas, a todo instante. Daquelas que você se julgará incapaz de concluir. Treinos duros, autocobrança e cobranças externas… mas que com calma e resiliência, a jornada vai te mostrando o caminho certo e no fim, a linha de chegada.
Por mais dura que tenha sido a jornada de treinamento de uma prova, ao cruzar a linha de chegada, todas as corredoras são categóricas: ”valeu a pena”! E geralmente querem viver tudo de novo. Perguntamos sobre a ”prova maternidade” para Naddy, Kelly e Rafa e elas também foram incisivas: “faríamos tudo de novo”.
Conversando com muitas mães corredoras, também somos firmes em dizer: É possível unir maternidade e corrida! Há muitas mulheres que se tornaram mães e depois tiveram um desempenho na corrida igual ou até melhor que antes.
Escolha o melhor momento para você e não se sinta menos mãe por se cuidar e voltar a fazer algo exclusivamente seu, sua corrida. Quando você se cuida, está zelando pela sua saúde mental e física e seu(sua) filho(a) precisa de uma mãe saudável em todos os aspectos.
Como dissemos, a corrida e a maternidade se complementam nos desafios e aprendizados. E um auxilia o outro.
Você é mãe e corredora? Conte como foi sua experiência! Se você ainda está em dúvida, também queremos ouvir você.
Escrito por Rafa Arlotta @rafaarlotta
