Por Camila Nogueira
A corrida, um esporte que por muito tempo foi considerado exclusivamente masculino, tem sido aos poucos, e cada vez mais, praticado por mulheres de todas as faixas etárias.
Você conhece a emblemática cena da maratonista sendo puxada para fora da corrida em uma tentativa falha de não permiti-la completar a maratona de Boston em 1967?
A primeira participação feminina na Maratona de Boston foi um ato revolucionário
Kathrine V. Switzer foi a primeira maratonista oficialmente inscrita a completar a prova de Boston. Embora houvesse muito preconceito e a crença de que mulheres não teriam força o suficiente para conquistar uma maratona, mulheres não eram oficialmente impedidas de correr a prova, naquela época. Inclusive, ouvia-se dizer que atividades desta intensidade faziam crescer bigodes em mulheres e que seus úteros paravam de funcionar.
Kathrine usou apenas suas iniciais e sobrenome – K. V. Switzer – para realizar sua inscrição e conseguir o famoso número de peito 261. Ela diz que não pretendia ser diferente, mas apenas participar da prova já que se sentia totalmente apta a fazê-lo. Ela estava lá, juntamente com seu treinador, seu namorado e outros 700 participantes, quando foi dada a largada. Sua alegria durou pouco. A partir do 3º quilômetro, os assédios iniciaram e tiveram seu ápice quando o organizador da prova tentou arrancar seu número e forçá-la a deixar a prova. O mesmo foi impedido pelo namorado de Kathrine.
Embora tenha conseguido se manter na prova, a maratonista afirma que sofreu muita vergonha e constrangimento por ter sido exposta daquela maneira. Porém, sentiu que não deveria deixar a prova simplesmente por dizerem que mulheres eram fracas demais para isso. Ela persistiu e completou sua prova com grande êxito. O que mudou o rumo da vida dela para sempre.
A participação das mulheres na corrida
Mais de cinquenta anos se passaram e, desde então, muitas mudanças ocorreram no esporte e na sociedade como um todo, felizmente. Estamos vivendo um ótimo momento, ainda muito longe do ideal, mas bem melhor que antes! Pela primeira vez na história da humanidade, as mulheres são maioria entre os corredores recreativos no mundo.
Há pouco disponibilizado, o maior estudo sobre resultados de corridas recreativas na história, (The State of Running 2019 – IAAF) mostrou que estamos em maior número, com 50,24% de participações femininas ao redor do globo. Uma marca que seria inimaginável até poucas décadas atrás.
As mudanças estão sendo rápidas e exponenciais. Pesquisas brasileiras estimam que a participação de mulheres em provas quadruplicou nos últimos anos. No Brasil inteiro, encontram-se inclusive inúmeros grupos de corrida exclusivamente femininos, onde elas trocam ideias, se ajudam, incentivam e apoiam umas às outras e têm visto na corrida uma maneira de fazer novas amizades. Aliás, existem corridas voltadas apenas para as mulheres.
A corrida traz benefícios para o corpo e para a mente da mulher
A corrida tem a capacidade de nos fazer ver o quanto somos capazes, nos permite conhecer nossa força, abandonarmos relacionamentos abusivos, termos mais serenidade para vencermos a depressão e melhora nossa autoestima ao mesmo tempo que contribui para a saúde do corpo. É na corrida que muitas mulheres vencem seus limites, se empoderam e tomam controle das suas próprias vidas.
A própria K. V. Switzer diz que a corrida a deu capacidade de arriscar, enfrentar desafios e essa foi a melhor coisa aconteceu com ela.
Treinos, provas e ruas estão repletos de praticantes que buscam manter o corpo em forma, viver de maneira mais saudável, cuidar do corpo e da mente. No mundo todo, mudanças sociais e culturais relacionadas ao papel da mulher no mundo beneficiam esse comportamento.
Faça você também parte dessa corrente. Chame suas amigas a descobrirem a melhor versão de cada uma delas. Seja correndo, caminhando ou como preferir, vamos todas dar suporte umas às outras para que cada vez mais mulheres se inspirem e tenham mais autoestima, saúde e ciência do que são capazes.